sexta-feira, 9 de novembro de 2012

A ESPERANÇA NA EDUCAÇÃO

Se a educação é determinada fora do poder de controle comunitário dos seus praticantes, educandos e educadores diretos, por que participar dela, da educação que existe no sistema escolar criado e controlado por um sistema político dominante? Se na sociedade desigual ela reproduz e consagra a desigualdade social, deixando no limite inferior de seu mundo os que são para ficar no limite inferior do mundo do trabalho (os operários e filhos de operários) e permitindo que minorias reduzidas cheguem ao seu limite superior, por que acreditar ainda na educação? Se ela pensa e faz pensar o oposto do que é, na prática do seu dia a dia, por que não forçar o poder de pensar e colocar em prática uma outra educação?
A resposta mais simples é: "porque a educação é inevitável". Uma outra, melhor, seria: "porque a educação sobrevive aos sistemas e, se em um ela serve à reprodução da desigualdade e à difusão de ideias que legitimam a opressão, em outro poder servir à criação da igualdade entre os homens e à pregação da liberdade". Uma outra ainda, poderia ser: "porque a educação existe de mais modos do que se pensa e, aqui mesmo, alguns deles podem servir ao trabalho de construir um outro tipo de mundo".
"Reinventar a educação" é uma expressão a Paulo Freire e aos seus companheiros do Instituto de Desenvolvimento e Ação Cultural. De algum modo, eles a aprenderam na África, trabalhando como educadores junto a educadores de países como a Guiné-Bissau e as ilhas de São Tomé e Príncipe, que se haviam tornado independentes de Portugal e tratavam de reinventar, mais do que só a educação, a sua própria vida social. O mais importante nesta palavra, "reinventar", é a ideia de que a educação é uma invenção humana e, se em algum lugar foi feita um dia de um modo, pode ser mais adiante refeita de outro, diferente, diverso, até oposto. Muitas vezes um dos esforços mais persistentes em Paulo Freire é um dos menos lembrados. Ao fazer a crítica da educação capitalista, que ora chamou também de "educação bancária", ora de "educação do opressor", ele sempre quis desarmá-la da ideia de que ela é maior do que o homem. De que as pessoas são um produto da educação, sem que ela mesma seja uma invenção das pessoas, em suas culturas, vivendo as suas vidas. Ele sempre quis livrar a educação de ser um fetiche. De ser pensada como uma realidade supra-humana e, por isso, sagrada, imutável, e assim por diante. Ao contrário do que acontece com os deuses, para se crer na educação é preciso primeiro dessacralizá-la. É preciso acreditar que, antes, determinados tipos de homens criam determinados tipos de educação, para que, depois, ela recrie determinados tipos de homens. Apenas os que se interessam por fazer da educação a arma de seu poder autoritário tornam-na "sagrada" e o educador, "sacerdote". Para que ninguém levante um gesto de crítica contra ela e, através dela, ao poder de onde procede.
Por isso, muitas páginas atrás comecei falando sobre ensinar-e-aprender como alguma coisa que começa com os bichos (quem sabe com as plantas, com os seres "brutos" do Universo?) e que, entre nós, homens, existe por toda parte. Procurei corrigir a visão estreita de que a educação se confunde com a escolarização e se encontra só no que é "formal", "oficial", "programado", "técnico", "técnocrático". Se em algumas páginas falei dela como um entre outros instrumentos de desigualdade de alienação, em outras imaginei-as como uma aventura humana.
A educação existe em toda parte e faz parte dela existir entre opostos. 

3 comentários:

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  2. Percebe-se que há um déficit na educação nacional que para algumas pessoas vai piorando a cada ano. Evasão escolar, alunos do Ensino Médio repetentes e outros problemas escolares têm feito da educação brasileira algo a ser temido ou odiado. Porém, ainda acredita-se, e muito, na educação e que ela pode transformar os atuais altíssimos índices de gravidez precoce, desigualdade social e enorme violência, principalmente nas comunidades, em perspectivas de um dia melhor para todos.

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  3. Corretíssimo quando você diz que acredita-se, e muito, na educação transformadora. Penso que é o único caminho de transformação do povo, para o povo e para o país.

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