O que se entende por currículo?
1- Dicionarização do termo:
O temo currículo foi dicionarizado, pela primeira vez, em 1663, com o sentido de um curso, em especial um curso regular de estudos numa escola ou numa universidade, sentido este que se impõe no vocabulário educacional, que quer dizer curso de estudos.
A palavra currículo é de origem recente e aparece com o significado de organização do ensino, querendo dizer o mesmo que disciplina.
Na perspectiva religiosa de Calvino, a vida seria uma corrida ou um trilho de corridas, ele usou isto para descrever sua trajetória, o percurso, a forma de vida que os seus seguidores deveriam prosseguir.
As definições propostas por Tyler, Good, Belth, Phenix, Taba, Johnson e D'Hainaut, dentre outros, reduzem currículo a uma intenção prescritiva, situada no plano do que deve ocorrer ou do que tem que ser feito, de uma formação antecipadamente determinada em termos de resultados de aprendizagem. O currículo representa, com efeito, algo de muito planificado, plano de ação pedagógica.
Segundo Bobbitt, é todo um leque de experiências, que visam o desdobramento das capacidades do indivíduo, ou é uma série de experiências instrutivas conscientemente dirigidas.
2- O complexo ambíguo como traços definidores:
Se não existe uma verdadeira e única definição de currículo que aglutine todas as ideias acerca da estrututação da atividades educativas, admitir-se-á que o currículo se define, essencialmente, pela sua complexidade e ambiguidade. Trata-se de um conceito que não tem um sentido unívoco, pois segundo Ribeiro (1990, p.11), se situa na diversidade de funções e de conceitos em função das perspectivas que se adotam o que vem a traduzir-se, por vezes, em alguma imprecisão acerca da natureza e âmbito do currículo.
Devido à natureza e dimensão pouco consensual, qualquer tentativa de defini-lo, converte-se numa tarefa árdua, problemática e conflitual. Cada definição não é neutral. Ainda não existe um acordo totalmente generalizado sobre o que verdadeiramente significa. Dentro desta complexidade, qualquer tentativa de sistematização passa, necessariamente, pela observação e interrogação destes dualismos: ensinar e aprender.
3- Currículo como interseção de práticas: elementos do sistema curricular:
Existe num duplo sentido: por um lado, um sistema que coordena vários subsistemas (de participação social e de controle político/administrativo, de inovação, de produção de conteúdos, de produção de materiais e recursos, técnico/pedagógico); por outro lado, um subsistema doutros sistemas (político, educativo, econômico, social, cultural...). Neste sentido, toda proposta curricular é uma construção social historicizada, dependente de inúmeros condicionamentos e de conflituosos interesses.
Nesse sentido, estão construídas as duas definições de currículo presentes nos documentos da reforma do sistema educativo da década de 1980, que transcreve, não pela pertinência acadêmica, mas pela originalidade de aparecerem pela primeira vez em documentos orientadores e em normativos oriundos do Ministério da Educação.
4- Para além da definição:
Diz Jackson: " deixemos que a nossa escrita seja tão difícil como tem de ser para passar a sua mensagem de forma perfeita". Neste contexto compreende-se que, preferencialmente, pela inexistência de um consenso, não sobre o que significa, mas do que deve veicular e do modo como deve ser organizado.
Se, de fato, pretendemos fazer do currículo um pensamento que aborde seriamente as questões da prática, não poderemos ignorar as seguintes deliberações curriculares: epistemológica, política, ideológica, técnica, estética e histórica.
Em síntese, a resposta à questão "o que se entende por currículo?" é uma missão, por um lado, complexa porque existe uma grande diversidade no pensamento curricular e, por outro, fácil, na medida em que o currículo é um projeto de formação (envolvendo conteúdos, valores/atitudes e experiências), cuja construção se faz a partir de uma multiplicidade de práticas inter-relacionadas através de deliberações tomadas nos contextos social, cultural (e também político e ideológico) e econômico, brangendo: conteúdos, valores, experiências, cultura, economia e sociedade.
Segundo Goodson, (2001, p. 61-62), currículo também é um projeto, uma práxis sobre um conhecimento controlado, por um lado, "no contexto social em que o conhecimento é concebido e produzido" e, por outro, no modo "como esse conhecimento é traduzido para ser utilizado num determinado meio educativo".
Desenvolvimento Curricular:
1- Noção de Desenvolvimento Curricular:
Num processo de construção, se divide em três momentos principais: elaboração, implementação e avaliação, tudo se conjugando numa racionalização dos meios em função dos objetivos e dos resultados, originando a chamada consciência tecnológica ou racionalidade técnica.
O desenvolvimento curricular depende de modo como é entendido o trajeto de formação. É um processo de contrução que envolve pessoas e procedimentos acerca destas interrogações: quem toma decisões acerca das questões curriculares? Que escolhas são feitas? Que decisões são tomadas? Como é que essas decisões são traduzidas na elaboração, realização e avaliação de projetos de formação?
Não é um processo puramente racional e cientificamente objetivo nem um processo nitidamente sequenciado e sistemático; depende de um método prático e simples, pois as decisões curriculares são frequentemente tomadas através de movimentos pequenos e progressivos ou sobre problemas específicos e não propriamente através de reformas globais.
O desenvolvimento curricular é um processo complexo e dinâmico que equivale a uma (re)construção de decisões de modo a estabelecer-se, na base de princípios concretos, uma ponte entre a intenção e a realidade, ou melhor, entre o projeto sócio/educativo (político pedagógico) e o projeto didático.
O conceito de desenvolvimento curricular implica, por conseguinte, um processo de design ou de concepção da ação pedagógica que ocorre nos mais diversos âmbitos de decisão e que depende das condições reais, dos recursos e limitações existentes. O curriculo é orientador e não determinante. Sofre alterações significativas no seu processo de desenvolvimento. Nele, o professor é o protagonista, atuando em colegialidade e partilhando experiências e também existe nele um projeto educativo (político-pedagógico) de escola.
Quem controla o processo de tomada de decisões e de que forma esse controle é exercido? É evidente que do entrelaçamento de todas essas forças formais e informais de influência, resulta o currículo, que tem como clientes e atores os empregadores, as instituições de formação, os encarregados de educação, os órgãos de decisão política e educativa, os professores, os alunos etc., que assumem entre si uma função comparticipante no sentido de possibilitar a aprendizagem dos alunos.
A autonomia concedida aos intervenientes diretos no desenvolviemento curricular, principalmente aos professores, depende que do modelo de organização curricular, que da inter-relação entre o currículo formal e o currículo oculto.
2- Contextos/níveis de decisão curricular:
De um modo global, consideram-se três os contextos/níveis de decisão curricular: político/administrativo - no âmbito da administrção central; de gestão - no âmbito da escola e da administração regional; de realização - no âmbito da sala de aula.
As fases de desenvolvimento do currículo são: Currículo prescrito (planos, programas, conteúdos, objetivos, competências, atividades, avaliação e orientação), Currículo apresentado ( mediadores, manuais, livros de textos, CD-roms, programas televisivos, programas de áudio...). Tem-se o Currículo programado, o planificado, os projetos curricular e o político-pedagógico e o currículo real e ainda se insere o currículo oculto. A fase do currículo real, ou do currículo em ação ou do currículo como atividade de sala de aula, é a que se situa num contexto de ensino e que corresponde a um currículo operacional, isto é, "o currículo que acontece hora a hora, dia após dia, na escola e na sala de aula. O currículo operacional também é um currículo percebido. Existe nos olhos de quem o observa.
O currículo realizado ou o currículo experiencial, é a expressão dos resultados da interação didática e do currículo vivenciado por alunos, professores e demais atores curriculares.
Quando se investiga, pode-se dizer que esta fase corresponde ao currículo observado e quando realizado, diz-se que existe o currículo oculto, por último, a fase do currículo avaliado, que inclui a avaliação dos alunos, mas igualmente a avaliação dos planos curriculares, dos programas, das orientações, dos manuais e livros de texto, dos professores, da escola, da administração etc.
Em qualquer prática de desenvolvimento curricular, jamais se pode intervir de modo antecipado e tecnológico.
Dinâmica e contextos curriculares:
Político/adminsitrativo, de gestão, de realização, professores, alunos, pais e outros.
Neste sentido, e sem a defesa de um qualquer processo de dicotomização, currículo é uma construção ampla de intenções e práticas que coexistem de uma forma nem sempre coerente, porque se encontram alicerçadas em conflitos, em função de um projeto de formação pertencente a uma dada organização. No processo de desenvolvimento do currículo encontrar-se-ão os lados, mas não os extremos, do currículo pré-ativo e interativo, do curriculo como fato e como prática e do curriculo planificado e democrático, conforme diz Goodson, 2001, Young, 1998 e Apple e Beane, 2000, respectivamente.
Minhas considerações finais:
Em síntese, o que posso dizer de currículo é que, em seu conceito e desenvolvimento, é uma práxis organizada e pensamentos devidamente necessários às instituições, sendo que o primordial é que os professores, alunos e pais, sejam, de fato, consultados, visto que são eles os elementos principais no uso do mesmo, para que possamos unir em um único contexto, o social, o cultural e o educacional.